quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Hummm


Os estudantes de História lembram do Egito dos tempos dos faraós e das famosas pirâmides. Poucas vezes, em sala de aula, temos a oportunidade de discutir o Egito moderno, principalmente a partir do século XIX. Do ponto de vista cultural e civilizatório, o Egito dos tempos atuais não guarda mais semelhanças com o antigo. Atualmente é um país de língua árabe, religião muçulmana e embora localizado no Nordeste da África, situa-se em termos geopolíticos no contexto do Oriente Médio e de seus graves problemas. Pode-se dizer que a inserção do Egito nesse novo plano teve início em 1869 com a abertura do canal de Suez (no istmo do Sinai, à leste do território egípcio), de importância vital para a economia dos países ocidentais que estavam se industrializando. Estes passaram a ter acesso mais rápido ao Oceano Índico e ao Oriente com os seus importantes mercados para os produtos europeus. Eram os tempos da expansão imperialista das potências ocidentais, liderados por Inglaterra e França. Em 1882, a Inglaterra iniciou uma ocupação militar (principalmente na zona do canal de Suez que os ingleses passaram a controlar) que perdurou por mais de meio século, embora em termos formais o Egito tivesse um governo próprio. Os egípcios eram discriminados e tratados como cidadãos de segunda classe em seu próprio território.

Uma característica permaneceu dos tempos do Egito dos faraós, a economia agrícola no vale fértil do rio Nilo, sustentada por um campesinato extremamente pobre e em bases semi-feudais.
Em 22.07.1952, um golpe militar, articulado pelo grupo dos "Oficiais Livres", derrubou a monarquia corrupta do rei Faruk e implantou um governo nacionalista, liderado inicialmente pelo general Mohammed Naguib e pelo coronel Gamal Abdel Nasser. Este último não pretendia apenas a derrubada do governo impopular que estava no poder, mas também um programa de reformas sociais, como o da redistribuição das terras aos felás (camponeses) e a modernização econômica do país. Inicialmente, Naguib tornou-se primeiro-ministro, mas as divergências com Nasser acabaram levando ao seu afastamento do cargo em 1954 e depois à sua prisão. Nasser assumiu o comando do Estado, implantou a reforma agrária, construiu a famosa represa de Assuã no rio Nilo para ampliar as terras irrigadas e iniciou uma tentativa de união dos países árabes: o pan-arabismo. Sob sua liderança, o Egito foi um dos participantes da Conferência de Bandung (1955) que deu origem ao bloco dos não-alinhados nos tempos da Guerra Fria (conflito entre os Estados Unidos e a União Soviética).

Contudo, a grande realização de Nasser e que o tornou o grande líder do mundo árabe foi a nacionalização do canal de Suez em 1956, enfrentando as velhas potências imperialistas, Inglaterra e França, que pressionadas pelas novas, E.U.A. e União Soviética, tiveram de recuar diante das pretensões de Nasser.

Por outro lado, Israel via no pan-arabismo uma ameaça à sobrevivência do novo Estado judeu em função dos litígios deste com o povo palestino (de origem árabe) e a crescente influência de Nasser na região. Por sua vez, os palestinos, sob domínio de Israel, viam no Egito e na Síria um apoio à sua luta de libertação e de criação de um Estado nacional (problema que perdura até hoje). A Guerra dos Seis Dias em 1967 representou uma grande derrota para Nasser diante de Israel, mais bem armado e equipado e com um território ainda maior (Israel ocupou nessa mesma guerra a península do Sinai, a faixa de Gaza, a Cisjordânia e as colinas de Golã da Síria).

Na foto acima, publicada no jornal "Última Hora" de 06.09.1954, vemos o general Naguib (à esquerda) e o coronel Nasser (à direita) com o beijo de uma aliança política que já estava no fim. Nesse mesmo ano, Naguib foi afastado.

Nasser morreu em 1970. O seu período marcou o início da presença dos militares no governo egípcio por meio de seus sucessores e que perdura até os dias de hoje, apesar da queda de Osni Mubarak, último herdeiro do nasserismo, no início da "primavera árabe" em 2011.

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