quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

papa João Paulo I


O dia 28 de setembro de 1978 ainda está bem vívido na memória dos católicos do mundo inteiro. Para eles, a data remete à morte precoce do papa João Paulo I. Mas, para muita gente ainda hoje, naquele dia coroou-se com êxito uma das mais bem armadas conspirações da história da Igreja. Os fatos que cercaram sua eleição, o curto mandato de apenas 33 dias e as circunstâncias da morte de Albino Luciani sugerem, para os defensores dessa teoria, que João Paulo I foi assassinado.

Mas que sorte de interesses aquele homem doce e discreto de 65 anos – conhecido como o “Papa Sorriso” – teria ameaçado contrariar? Antes de abordar a trama, convém relembrar os acontecimentos, amplamente debatidos pela mídia da época, e que renderam algumas obras polêmicas e o bem-documentado livro Um Ladrão na Noite, de John Cornwel, publicado na Inglaterra em 1989.

Filho de uma família proletária e de um pai socialista, Albino Luciani nasceu em 17 de outubro de 1912 onde hoje fica Canale d’Agordo, norte da Itália. Durante toda sua carreira, foi um clérigo inexpressivo e nunca foi cotado para o posto de papa. Sua eleição deixou todos boquiabertos, uma vez que concorreu com nomes fortes, como os cardeais Pignedoli, Baggio, Siri, Felici, Koenig, Bertoli e o brasileiro Aloísio Lorscheider. Também nunca havia integrado o serviço diplomático nem servido no Vaticano. Com essa história, para surpresa geral, foi eleito pontífice no conclave mais concorrido e rápido de que se tem notícia.

Para o escritor inglês David Yallop, autor do livro Em Nome de Deus – uma investigação do assassinato do papa João Paulo I, Albino Luciani teria sido eleito pelos conservadores simplesmente para cumprir ordens. Mas, ao demonstrar carisma, liderança e, principalmente, disposição para reformar os quadros e interferir no comando do Banco do Vaticano, teria despertado o receio de determinado grupo de prelados.
O diretor executivo do Banco do Vaticano, Paul Marcinkus, seria um dos primeiros prejudicados por João Paulo I. Sua exoneração traria à tona extensas negociatas com a Máfia Italiana e a Maçonaria.

Marcinkus era notoriamente próximo do presidente do Banco Ambrosiano de Milão, Roberto Calvi, por sua vez amigo do advogado e financista siciliano Michele Sindona. Os três mantinham relações com Lício Gelli, outro financista que controlava a loja maçônica P2, a qual teria se infiltrado no Vaticano.
Um grupo de clérigos também estaria envolvido na trama, por temer a perda de posições de prestígio no Vaticano. Essa versão foi explorada por obras como A Verdadeira Morte de João Paulo I, de Jean-Jacques Tierry, e pelo romance A Batina Vermelha, de Roger Peyrefitte, que ainda acrescentava à trama uma suposta participação da KGB, a polícia secreta da então poderosa União Soviética. Mas foi o escritor John Cornwel quem investigou mais seriamente o episódio e deu consistência à trama em Um Ladrão na Noite. Ex-seminarista, Cornwel foi estimulado pela própria Igreja a produzir uma obra conclusiva que pudesse desmantelar as teorias conspiratórias sobre a morte do papa.

Há ainda indícios de que Luciani pressentira sua morte. Ricardo de la Cierva, a única pessoa que teria tido acesso ao diário pessoal do papa, reproduz no livro O Diário Secreto de João Paulo I um trecho em que o pontífice revela essa premonição. De acordo com o livro, em julho de 1977, ele teria visitado irmã Lúcia, a anciã protagonista das aparições de Fátima, no convento das Carmelitas de Coimbra. Entre longos silêncios e súbitos olhares fixos, a religiosa teria lhe dito a frase: “E quanto ao senhor, senhor padre, a coroa de Cristo e os dias de Cristo”. Em seu diário, João Paulo I teria escrito: “Os dias de Cristo serão meus dias, minhas semanas, meus anos? Não sei”. Aquele era o 25o dia de seu pontificado – que durou exatos 33 dias.

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